Em sua homilia desse 24º Domingo do Tempo Comum, Pe. Rodrigo Hurtado LC, reflete sobre uma das frases mais famosas de Jesus, quando fala que quem quer seu discípulo há que renunciar a si mesmo, tomar sua cruz e, então seguí-lo (Marcos 8, 34). Para compreender essa frase de Jesus, precisamos aprender a pensar como Ele.

Quando escutamos isso, imediatamente pensamos no sentido metafórico, que tomar a cruz seria aceitar as provações, os sofrimentos, mas, há época de Jesus, as pessoas não entendiam nesse sentido, a cruz era uma realidade presente, que significava o pior de todos os instrumentos de suplício criados pelos romanos, mais nada.

É exatamente isso que os apóstolos escutaram, pois a cruz é um instrumento que serve unicamente para matar os criminosos. E a coisa fica ainda mais enigmática, pois Jesus se volta para seus eles e diz que quem quisesse salvar a vida, teria que perdê-la e quem a perdesse, por causa Dele e do Evangelho, salva-la-ia. 

Padre Rodrigo revela que São João da Cruz dizia que «todo o ensinamento de Jesus está concentrado aqui e o ponto de partida é justamente Marcos 8, 34». Para entender essa frase de S. João da Cruz, de que aqui está concentrada a essência de nossa fé, temos que entender um pouco o contexto.

Jesus leva seus discípulos para Cesareia de Filipe, um lugar distante, para descansar e estar sozinho com eles, revela sua verdadeira identidade como Messias, mas pede-os que não cometem com ninguém, porque Ele não quer ser confundido com a expectativa judaica de um messias militar, que libertaria o povo do domínio de Roma. Jesus é um messias espiritual.

Logo após revelar-se como Messias, Ele imediatamente começa a falar da cruz, e isso não é uma casualidade. Jesus fala do messias, mas para que os apóstolos entendam, ele explica que irá sofrer, será traído, irá ser morto e depois, ressuscitará. «Jesus fala várias vezes da paixão, mas unido à ressurreição, as duas coisas para Ele vão sempre juntas», recorda o Pe. Rodrigo.

Após esse momento, Pedro toma Jesus à parte e contesta sua fala sobre a cruz e recebe, talvez, a mais dura resposta que Jesus já deu a ele, ou a qualquer um de seus discípulos:

«Vai para longe de mim, Satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens»

Marcos 8, 33

«Aqui está a chave», explica o Pe. Rodrigo. «A chave de tudo é que nós temos que aprender a pensar como Deus». «O cristianismo consiste precisamente nisso, não na forma de pensar do mundo, mas na forma de pensar de Deus. Por isso, S. João da Cruz dizia que aqui está a essência da nossa fé, porque o cristão pensa diferente. Pensa como Jesus».

«Essa é a essência do cristão. Se nós desejamos viver como Jesus, precisamos aprender a pensar como Ele», destaca o padre. «A vida está feita de escolhas e escolhas dependem de como pensamos. Se nós não pensamos como Jesus, não vamos poder fazer as escolhas de Jesus e, portanto, as escolhas certas».

Pe. Rodrigo continua: «O jeito de pensar nos liberta de muitas angústias, de muitos problemas, de muitos sofrimentos e sobretudo, às vezes sim, temos que carregar nossa cruz. Mas, sobretudo, nessa vida, o jeito de pensar de Jesus, nós trará muita felicidade».

«Como fazemos para pensar como Jesus?», pergunta o padre.

Primeiro temos que ler as sagradas escrituras e em segundo lugar, precisamos orar para que Ele ilumine nossa mente e nosso coração, para descobrir a mensagem que está nas Escrituras. «Sem essas duas coisas você nunca chegará a pensar como Jesus e nunca será um autêntico cristão».

Características do Pensamento de Jesus

Enxergar a vida a partir da perspectiva da eternidade

Esse é o ponto de partida e aprendemos isso justamente no evangelho de hoje. Para entender o paradoxo que Jesus propõe sobre perder e ganhar a vida, a chave está justamente na palavra «vida». Jesus a utiliza em dois sentidos: vida terra e vida eterna.

«Quem quiser salvar a vida eterna, tem que perder a vida terrena. Quem perder a vida terrena, salvará a vida eterna».

Isso quer dizer algo muito simples: os interesses da vida terrena são contrários aos interesses da vida eterna. «Se você vai atrás sempre da felicidade aqui na terra, você pode perder a vida eterna». Nem todas as coisas desse mundo são ruins, o importante é lembrar que são meios, não fim. O fim está lá na vida eterna.

Estar disposto a sacrificar-se pelos outros

É uma consequência do anterior. Nós estamos dispostos a abraçar o sacrifício se esse tiver um propósito e também um prêmio. Quando Jesus morreu na cruz e ressuscitou, deu um sentido a nosso sofrimento e também deu um prêmio. Se eu sei que quando me sacrifico para ajudar alguém, isso tem um sentido e, além disso, tem um prêmio no céu, eu consigo fazer.

Querer fazer a vontade de Deus

Jesus dizia, em João 6, que desceu do céu, não para fazer sua vontade, mas para fazer a vontade Daquele que o enviou. Como essa frase é contra-cultural! Quantas vezes você encontrou alguém que diz, não estou aqui para fazer minha vontade, mas para servir? Geralmente o que encontramos são pessoas que buscam sempre fazer a própria vontade. 

Muitas vezes, a vontade de Deus é que suportemos os sofrimentos e isso vemos claramente em Jesus, que teve que enfrentar a Paixão e, como um ser humano como nós, também teve medo. Mas, nesse momento, Ele se dirige ao jardim do Getsêmani e faz uma oração que serve como modelo para toda oração cristã:

«Abba, Pai, todas as coisas são possíveis para ti, afasta de mim este cálice; todavia, não seja o que Eu desejo, mas sim o que Tu queres»

Marcos 14, 36

Essa oração tem três partes. Além de se dirigir ao Pai de um jeito carinhoso, como as crianças fazem, primeiro, essa oração tem um Ato de Fé; em segundo lugar, Jesus faz um pedido e; em terceiro lugar, Jesus faz algo muito importante, que é a rendição, o abandono.

Estar disposto a perdoar as pessoas que nos magoaram

O perdão é a marca registrada de Jesus. Perdoar é libertar-nos das mágoas que trazemos no coração. Perdoar é a outra face do amor. Quem ama perdoa e sempre dá oportunidades. 

«Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, abençoai aos que vos amaldiçoam, orai pelos que vos acusam falsamente»

Lucas 6, 27

Jesus nos ensina 3 jeitos de amar, inclusive àquelas pessoas que nos magoam. Primeiro temos que fazer o bem, ou seja, não responder com a mesma moeda. Em segundo lugar, abençoar aqueles que falam mal de nós, isto é, não criticar quem fala mal de nós, mas falar bem. E, por fim, a terceira coisa que podemos fazer é orar.

Querer agradar a Deus

Isto é muito importante e nos liberta de muitas preocupações. Sempre estamos preocupados em agradar as pessoas, mas se pensamos como Jesus, estamos preocupados somente em agradar a Deus. Além, disso, é impossível agradar a todas as pessoas. 

Da aprovação de quem depende nossa felicidade? Ao responder essa pergunta descobrimos se estamos preocupados em agradar a Deus. Nada pode influir na sua felicidade a não ser que você permita.

Depender do poder de Deus, não do seu

Muitas vezes queremos solucionar os problemas de nossa vida sozinhos. Quando vemos Jesus no jardim do Getsêmani, antes de orar ele estava com medo, tremendamente angustiado, mas, após Jesus orar, vemos que Ele se coloca sereno e em paz.

Acreditar em Deus não nos poupa dos problemas, mas sabemos que Ele sempre está conosco, e que Ele nunca vai nos abandonar e, mesmo passando dificuldades, sabemos que elas possuem um propósito e um prêmio no céu.

Por fim, Pe. Rodrigo, encerra sua homilia com um poema de São João da Cruz:

Para chegares a saborear tudo, não queiras ter gosto em coisa alguma..

Para chegares a possuir tudo, não queiras possuir coisa alguma..

Para chegares a ser tudo, não queiras ser coisa alguma.

Para chegares a saber tudo, não queiras saber coisa alguma.

Para chegares ao que não gostas, deves ir por onde não gostas.

Para chegares ao que não sabes, deves ir por onde não sabes.

Para vires ao que não possuis, deves ir por onde não possuis.

Para chegares ao que não és, deves ir por onde não és.

Quando reparas em alguma coisa, deixas de arrojar-te ao tudo.

Porque para vir de todo ao tudo, deves negar-te de todo em tudo.

E quando vieres a tudo ter, hás de tê-lo sem nada querer..

(S. João da Cruz, Subida ao Monte Carmelo)
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