Pe. Rodrigo Hurtado, LC, dedica sua homilia sobre o conhecido milagre da multiplicação dos pães, trazido pela liturgia desse domingo, para refletir sobre como Deus sempre multiplica aqui que lhe entregamos. 

Segundo o Pe. Rodrigo, esse episódio da vida de Jesus foi tão marcante para os discípulos que é relatado nos quatro textos evangélicos, mas no trecho trazido pela homilia desse domingo, João chama os milagres de Jesus de sinais, porque, para João, esses milagres que Jesus realizava, na verdade, queriam explicitar algo muito mais profundo, algo espiritual. «Eles refletiam uma outra realidade muito mais importante e maior do que apenas o milagre físico».

Nos próximos domingos, a liturgia se debruçará sobre a continuidade desse texto do capítulo 6 do Evangelho de João, mas qual seria o simbolismo desse milagre da multiplicação dos pães trazido nesse domingo? 

Pe. Rodrigo diz que o significado desse milagre é uma «lei espiritual». «Assim como existem as leis físicas, assim como existem as leis da natureza, as leis do corpo, as leis da química, a lei da gravidade, etc., existem também leis espirituais». «Quando nós seguimos essas leis espirituais, Deus faz a sua parte». «Essas leis movem Deus em nosso favor».

A lei espiritual que está encerrada nesse milagre é que «Tudo o que você coloca nas mãos de Deus, Ele multiplica», explica o Pe. Rodrigo. Quando nós nos reservamos, não frutificamos, mas, quando colocamos nossa vida nas mãos de Deus, como nesse caso, os pães trazidos pelo menino, Ele multiplica.

Para ilustrar bem essa realidade trazida pelo evangelho desse domingo, Pe. Rodrigo passa a seguir o trajeto realizado justamente pelo pão. Em primeiro lugar, o menino toma os cinco pães e dois peixes e os entrega a Jesus. Em segundo lugar, Jesus tomou os pães e deu graças. A seguir, Jesus partiu os pães. E, finalmente, Jesus distribuiu os pães.

Essas são as 4 etapas que Deus usa para multiplicar qualquer coisa que nós coloquemos em Suas mãos. 

1. O pão é colocado nas mãos de Jesus

Pe. Rodrigo reforça que temos que perceber que isso é uma lei espiritual e não se trata de simbolismo. «Tudo o que você coloca nas mãos de Deus, Ele multiplica. Se você coloca talento, Deus multiplica talento; se coloca energia, Deus multiplica sua energia; coloca tempo, Deus multiplica seu tempo; se você coloca qualquer virtude, Ele converte em dons do Espírito Santo, que são muito maiores; se você colocar seus bens materiais, seu dinheiro e Ele o multiplica também»… efetivamente, as pessoas que são generosas, que colocam seus bens a serviço de Deus, Ele os multiplica, não para usufruto pessoal, mas, precisamente, para compartilhar. 

«Deus é o inventor da multiplicação», recorda o Pe. Rodrigo. «E Ele adora multiplicar tudo o que nós colocamos nas mãos dele».

São Paulo, em suas cartas, ao falar da entrega que temos que fazer a Deus, usa 3 imagens. Primeiro, usa a imagem de um soldado, depois usa a imagem de um atleta e, também, usa a imagem do agricultor.

Na segunda carta a Timóteo, Paulo explica que um soldado está disposto a dar tudo por seu soberano, até a vida. Em nossa entrega a Deus, precisamos perceber o quanto estamos dispostos a isso, ou se nós colocamos condições, nos reservamos para nós mesmos a nossa própria vida.

«Estamos dispostos a sair de nossa zona de conforto?», pergunta o padre.

S. Paulo também traz, na segunda carta aos Coríntios, a figura do atleta, que não corre de qualquer maneira, mas corre para alcançar a vitória. «Como você corre a corrida de sua vida?», questiona o Pe. Rodrigo. Corremos a corrida de nossa vida de qualquer jeito, com a consciência de que essa é a única corrida que posso fazer para ganhar o prêmio? Isso que Paulo está falando é o que a Igreja sempre tratou como a formação do caráter. 

A terceira imagem que Paulo nos traz é a do Agricultor que, se semear pouco, colherá pouco, mas se semear com generosidade, colherá com fartura. «O agricultor sabe que se a semente ficar guardada no celeiro, não irá produzir nada. Ele precisa entregar a semente à terra». 

Portanto, diz o padre, esse é o primeiro passo. O pão passa da multidão a Cristo. 

2. O pão é tomado e abençoado por Jesus

«Realmente, quando nos entregamos nas mãos de Deus, nós experimentamos alegria, experimentamos paz, experimentamos liberdade», constata o Pe. Rodrigo. Minha confiança está no Senhor. Não sei o que vai me acontecer no futuro, não sei o que vai me acontecer amanhã, inclusive, mas o Senhor está comigo, porque eu me entreguei a Ele. 

«Quando eu entrego a minha vida, Deus me abençoa», reforça o padre, que reconhece que esse é um conceito difícil de compreendermos, pois estamos acostumados com o conceito de que na vida, tudo tem que ser conquistado, tem que ser merecido. Temos até expressões como “bom demais para ser verdade”. Temos sempre essa ideia de que se queremos algo, temos que nos esforçar. «Isso é verdade na vida humana. Só que, com Deus, não funciona assim».

«Ele nos dá, não porque tenhamos feito muitas coisas, muitas obras. Quando confiamos nele, quando entregamos nossa vida a Ele, Ele nos abençoa», esclarece o Padre. «A generosidade de Deus não está baseada em nossa fidelidade, mas na fidelidade dele». 

«Deus nos ama e quer nos abençoar», afirma o padre. Deus nos abençoa através da graça e da misericórdia. A graça é quando Deus nos dá algo que não merecemos, e a misericórdia é o contrário, Deus não nos dá algo que, sim, merecemos, ou seja, o castigo. «Para aqueles que acreditam em Cristo, não há castigo. O amor de Deus é muito grande».

3. O pão é partido por Jesus

«Essa é a parte difícil, quando Jesus decide partir também o nosso pão», reconhece Padre Rodrigo.

Jesus faz isso de muitas formas. A vida sempre nos permite passar por provações e dificuldades. A vida é bonita e tem muitas coisas belas, mas tem muitas provações. «Queremos que Deus multiplique nossa vida, deixe-se partir. Deixe que Deus parta esse pão, que é a sua vida. Às vezes não em um pedaço, mas em muitos pedaços, porque depois de partido, Ele pega todos os pedaços e faz um belo mosaico. Ao jeito de Deus, não ao nosso jeito». 

Pe. Rodrigo também recorda a segunda carta de Pedro que traz o conforto de sabermos que as provações são usadas para provar nossa fé, que é «mais preciosa do que o ouro provado pelo fogo». 

«O que temos que fazer quando Ele nos parte?» – indaga o padre. «Permanecer firmes, permanecer firmes na tentação, permanecer firmes quando estamos cansado, quando estamos a ponto de jogarmos a toalha».

4. O pão é distribuído por Jesus

Pe. Rodrigo confessa que esse também é um símbolo da nossa vida. «Nossa vida não é sobre nós. Nossa vida é sobre uma missão que Deus nos deu. Você está aqui não por você, mas para cumprir uma obra, para fazer algo em favor de alguém. Para colaborar com Cristo na salvação da humanidade de um jeito concreto que cada um deve descobrir».

Nossa vida é como um filme e nós somos o autores, mas não somos os diretores. Deus é o diretor da nossa vida. Temos que fazer o que Deus quer, o que o diretor do filme de nossa vida quer, porque Ele é o melhor diretor e precisa que nós sejamos dóceis à vontade dele.

Por fim, Pe. Rodrigo relembra que, ao final do milagre, os discípulos ainda recolheram 12 cestos com o que sobrou dos pães, porque quando Jesus faz um milagre, faz com generosidade, com abundância. 

«Sua melhor chance de ser feliz, sua melhor chance de ter uma vida fecunda, cheia de frutos, de realização profunda é entregá-la a Deus, ir a Deus, deixar que Ele te abençoe, mas também, deixar que Ele te parta, porque então nós vamos dar muitos frutos», anima o Pe. Rodrigo.

Pe. Rodrigo termina sua homilia lendo um trecho da carta de S. Paulo aos Coríntios:

Deus é poderoso para fazer que toda a graça vos seja acrescentada, a fim de que em todas as áreas da vida, em todo o tempo, tendo todas as vossas necessidades satisfeitas, transbordeis em toda boa obra

2 Coríntios 9, 8

* O Pe. Rodrigo Hurtado, LC, transmite a celebração da Santa Missa todo domingo, às 18h, através de seu canal do YouTube. Não deixe de se inscrever no canal, deixar seu like nos vídeos e compartilhá-los com seus amigos. Baixe também o aplicativo Seedtime, que traz uma série de meditações, com diversos temas, para nos ajudar a ficarmos mais perto de Deus em nosso dia a dia.