No Café com Fé dessa quinta-feira, 24 de junho, Adriano Dutra recebe novamente Wilma Steagall De Tommaso, para o lançamento de seu mais novo livro, Maria Madalena: História, Tradição e Lendas, editado pela Paulus. 

Wilma, que é doutora em ciências da religião pela PUC/SP, conta que seu interesse por Maria Madalena vem desde a escolha do tema para seu mestrado. Ela queria pesquisar Maria Madalena na arte, mas foi incentivada por seu orientador a buscar um só artista que retratasse a aquela santa mulher. Seu foco, então, se dirigiu para Doménikos Theotokópoulos, o El Greco, além de toda uma literatura mundial para concluir sua pesquisa. Contudo, como há época, era lançado o polêmico livro O Código Da Vinci, de Dan Brown, havia uma certa confusão sobre Maria Madalena, fazendo com que Wilma preferisse parar de dar palestras sobre o tema.

No entanto, A professora recorda que, em 2016, o Papa Francisco elevou a comemoração de Maria Madalena da categoria de Memória para Festa, categoria reservada somente aos Apóstolos, alguns santos especiais e mártires. Nesse momento, Wilma é chamada novamente para dar palestras e entrevistas sobre essa santa e, nesse período, ela também assistiu a uma conferência do Pe. Marko Ivan Rupnik que questionava o motivo dessa mulher tão importante para a Igreja ser tão mal retratada na arte contemporânea. Isso fez com que Wilma resolvesse reavivar o tema que havia pesquisado em seu Mestrado.

O livro Maria Madalena: História, Tradição e Lendas, contudo, não é a dissertação de mestrado, como esclarece Wilma, mas uma obra nova, com inúmeras referências e estudos que ela reuniu ao longo dos anos, desde que se dedicou à pesquisar a vida da santa. 

Maria Madalena: primeira testemunha da ressurreição

Ao falar sobre a importância de Santa Maria Madalena, a professora Wilma reforça que os Santos Padres dizem que ela representa a própria humanidade redimida. «segundo o evangelista João, no capítulo 20, ela foi premiada, sendo a primeira testemunha da ressurreição», ilustra Wilma, que também relembra que Jesus, naquele momento, pede para Madalena ir anunciar sua ressurreição aos demais.

No século II, Hipólito de Roma chamava Madalena de Apostola Apostolurum, ou seja, ela foi apóstola dos Apóstolos. «Ela foi anunciar Jesus vivo para os amigos de Jesus», comenta Wilma. «Ela já é reconhecida pela Santa Igreja desde os primeiros séculos».

«Quem é essa mulher? É uma discípula amada, uma mulher que teve uma conversão total, uma metanoia, vamos dizer assim. Quando Jesus expulsa dela os demônios… e ela amou muito Jesus e parece que era recíproco, Ele a amava muito também, como a gente quer ser amado», ensina Wilma. «Nós não temos noção de como é o amor de Deus por nós, mas temos que pedir para ter por Ele o mesmo amor que essa santa teve».

Wilma continua: «Nós fomos criados no amor… João fala que Deus é amor, então nós temos que voltar de encontro para esse amor. É isso que Madalena encontrou. Ela encontrou no Cristo esse amor que ela estava precisando, que todos nós precisamos para dar sentido à nossa vida».

A professora esclarece ainda que a sociedade daquela época era bem patriarcal e que a mulher não possuía valor jurídico como testemunha, mas Jesus quis transformá-la em testemunha da sua ressurreição. «O fato dela ser mulher, o fato dela anunciar aos discípulos, Ele (Jesus) está quebrando as regras e mostrando que o homem e a mulher, perante Deus, são iguais. É lógico que a mulher tem toda uma fisiologia toda diferente, o homem também, são complementares, não podem ser inimigos, não pode ter essa rixa como está, muitas vezes, acontecendo, infelizmente. Mas, a mulher e o homem, perante Deus, são muito amados».

Tommaso afirma ainda que «os quatro evangelistas colocam Maria Madalena como testemunha da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Não tem nenhum Evangelho que fale que Maria Madalena não esteja presente».

Quem é Maria Madalena? Uma pecadora? Irmã de Lázaro?

Sobre a dúvida se Maria Madalena seria a pecadora anônima citada por Lucas no capítulo 7 de seu Evangelho ou, até mesmo, Maria, irmã de Lázaro, Wilma reconhece que os textos evangélicos são muito lacônicos ao falar sobre os personagens. Falam pouco sobre Maria, mãe de Jesus, sobre São José. Não sabemos quase nada da vida pessoal dos próprios apóstolos. Outro fato importante a se notar é que as mulheres, naquele tempo, sempre eram nomeadas em relação a um homem. Quando solteiras, eram a mãe de alguém, ou filha, ou até mesmo irmã. Madalena, por sua vez, está citada em referência à cidade de Magdala e, por causa desse fato, muitas histórias foram criadas.

Contudo, estudiosos refletem sobre o fato de Lucas não ter citado o nome da pecadora no capítulo 7 de seu texto, mas citou nominalmente Madalena, de quem Jesus havia expulsado sete demônios, já no capítulo seguinte. Isso seria um indício de que se tratavam de duas pessoas distintas. No início da tradição católica, porém, Madalena era tida como a pecadora e, também, como a irmã de Lázaro e, só após o protestantismo é que se separou as três mulheres. Já no Concílio Vaticano II, também foi retirado o epíteto de penitente de Madalena, segundo Wilma. «Pelo menos, exegeticamente serão três mulheres diferentes. Porém, se for uma questão de exemplo, qual o problema?», pergunta a professora.

Wilma também fala sobre o texto conhecido como Evangelho de Maria Madalena e alerta sobre o fato dele ser um texto gnóstico, «completamente contrário a tudo o que a Igreja prega» e cita que, em seu livro, ela trata de todos os textos gnósticos e apócrifos que citam Maria Madalena.

A professora, que visitou a Igreja de Maria Madalena em Marselha, no sul da França, também conta a história citada na Legenda Aurea, escrita na Idade Média pelo Frei Jacopo de Varazze, que retrata Maria Madalena como irmã de Lázaro e Marta, que tinham sofrido a pena de morte em sua terra, sendo lançados ao mar em uma barca à deriva, que acabou por se converter, por vontade de Deus, em uma pena de exílio, chegando o barco à costa da Provença. Ali, Maria teria pregado aos pagãos e teria chegado ao fim de sua vida.

Ao encerrar o Café com Fé de lançamento de seu livro, Wilma pergunta: «O que Maria Madalena nos mostra? O que essa passagem rápida de Maria Madalena com Jesus nos deixa?»

«Que realmente ela se converteu, ela encontrou Nele o sentido da vida dela», responde. «O que nos salva mesmo não são as nossas boas obras, o que nos salva é o amor que nós dedicamos nas mínimas coisas»

O livro Maria Madalena: História, Tradição e Lendas pode ser adquirido diretamente do site da editora Paulus ou em suas lojas físicas, encontradas em todas as capitais do Brasil. 

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