Em sua homilia deste Terceiro Domingo do Advento, que este ano coincide com a Festa de Senhora de Guadalupe, Pe. Rodrigo Hurtado LC nos recorda que não existe um modelo de santidade tão perfeito para nós como Maria Santíssima que, melhor que ninguém, nos ajuda a nos preparar para o Natal que se aproxima.

Dizer que Maria é modelo de santidade é uma expressão válida na medida em que não nos limitemos a pensar em modelo no sentido humano. Maria é modelo em um sentido muito mais profundo e muito mais pleno. Ela não é somente um exemplo a ser seguido, mas é, sobretudo, a pessoa que Deus criou e a meta à qual todos nós temos que chegar.

São Paulo diz que fomos criados para sermos santos e imaculados. Se nós somos pecadores, não podemos estar na presença de Deus. Adão e Eva, quando pecaram, fugiram da presença de Deus.

Pe. Rodrigo revela que Deus nos quer santos para poder partilhar conosco os segredos mais íntimos de seu coração. Ele não nos quer santos não tanto por Ele, mas por nós. Ele quer nos dar a alegria de partilhar a plenitude e a felicidade que Ele tem em si.

As expressões “santa” e “imaculada” que são S. Paulo, em sua carta aos Efésios, se refere a todos nós, são usadas em referência à Maria, porque Ela foi a primícia daquele projeto que Deus quer para nós. Em Maria, Deus fez um «teste drive» de como nós devemos ser. Ela é a prova e a garantia de que Deus pode fazer-nos santos e imaculados para viver na sua presença.

Mas o que significa santidade? Ter uma vida santa é o termo que Deus usa para se referir a uma vida bem sucedida, plenamente realizada, com muito fruto. Quando buscamos no evangelho esse conceito, encontramos Jesus se referindo a uma vida cheia de frutos.

“O que glorifica meu Pai é que deis fruto em abundância; e assim sereis verdadeiramente meus discípulos.”

(João 15, 8)

Nessa frase Jesus diz três coisas. Primeiro, ele quer que nós demos frutos em abundância. E os frutos não são para mim, mas para o próximo. Em segundo lugar, quando damos frutos, damos glória a Deus e, em terceiro lugar, isso é aquilo que nos identifica como seus discípulos.

Portanto, o padre Rodrigo, em sua homilia, busca nos ensinar como fazer para que nossa vida dê muito fruto.

Cultivar as raízes

Se queremos que nossa vida dê muito fruto, temos que cultivar as raízes de nossa vida. Para que produzamos frutos em abundância, nossas raízes precisam estar profundmente fixadas em Deus.

“Bendito é o homem cuja confiança está totalmente depositada em Yahweh, cuja fé está no SENHOR. Ele será como uma árvore plantada junto às boas águas e que estende as suas raízes para o ribeiro.”

(Jeremias 17, 7)

Nesse versículo, Jeremias dá o exemplo da árvore cujas raízes estão próximas da água, da fonte de alimento. Esse é o homem que tem Deus no centro de seu coração, como critério para todas as suas decisões.

“Uma árvore que não se afligirá quando chega o calor, porque as suas folhas estão sempre viçosas; não sofre de ansiedade durante o ano da seca nem deixará de dar seu fruto!”

(Jeremias 17, 8)

E, Jeremias ainda continua narrando duas circunstâncias que podem afetar os frutos dessa árvore. Primeiro, o calor, que afeta aquela árvore que não tem suas raízes fixadas próximos da água. Em nossa vida, o calor são as provações, esses momentos de estresse muito extenso.

Outra coisa que Jeremias diz afetar os frutos de uma árvore é a seca. Diferentemente do calor, a seca consome as energias daquela planta. Para nós, a seca são todas as coisas que vão nos desgastando. São coisas que duram tempo e vão nos levando ao limite.

Quando temos nossas raízes fixadas em Deus, aguentamos também a seca. A primeira coisa que temos que fazer se queremos ter uma vida produtiva é ter nossas raízes cultivadas próximas de Deus.

Maria tinha raízes muito profundas. Lucas diz que Maria guardava todas as coisas e meditava em seu coração. Ela vivia sempre em atitude contemplativa. Por isso, Maria tinha suas raízes profundamente fixadas em Deus.

“Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores… antes tem seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e noite. Será como a árvore plantada junto às correntes de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cuja folha não cai; e tudo quanto fizer prosperará.”

(Salmo 1, 2)

Essa é a primeira condição para darmos frutos.

Eliminar os obstáculos

Para produzirmos frutos, temos que ter nossas raízes profundamente cultivadas em Deus, mas também precisamos tirar os obstáculos que impedem que a planta cresça. 

“A semente é a palavra de Deus… A parte que caiu entre os espinhos são os que ouviram e, indo seu caminho, são sufocados pelas preocupações, riquezas, e deleites desta vida e não dão fruto com perfeição.”

(Lucas 8, 14)

Nesse trecho do Evangelho, Jesus mostra os obstáculos que nos impedem de produzir frutos. O primeiro obstáculo, são as preocupações. Se eu vivo uma vida ocupada demais, as raízes não podem crescer. Nós não podemos estar preocupados e ser felizes ao mesmo tempo.

Outro obstáculo são as riquezas. Se eu as busco, se procuro viver sempre no luxo e torno o dinheiro o meu ídolo. Isso obviamente me afasta de Deus. E, por fim, Jesus agrega como obstáculo os prazeres. Os prazeres são muito bons, mas é preciso um equilíbrio.

Maria nos ensina a estarmos sempre unidos a Deus, retirando de nossa vida todos os excessos, os obstáculos que nos afastam da vida com Deus.

Colaborar com Deus na poda

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Toda vara em mim que não dá fruto, ele a corta; e toda vara que dá fruto, ele a limpa, para que dê mais fruto.” (João 15, 1)

Se nós queremos alcançar a santidade, saibamos que Deus irá nos podar. Deus tira de nossa vida não somente aquilo que é ruim, que nos atrapalha, mas, algumas vezes, ele irá nos podar em coisas boas, mas para demos mais frutos. A poda que Deus faz em você é porque está te preparando para dar muito fruto.

A chave, diz o Padre, é distinguir “castigo” ou “corte” de “poda”. A poda é positiva, o corte é negativo. A poda é algo que o agricultor faz pensando no futuro, o corte é pensando no passado. 

“Não temas, Maria; pois achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Este será grande e será chamado filho do Altíssimo; o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi seu pai; e reinará eternamente sobre a casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.”

(Lucas 1, 30)

Imagine que Maria, ao ouvir essas promessas do Anjo, poderia pensar que tudo em sua vida estaria resolvido, que tudo seria fácil, mas não foi assim em sua vida. Quando vemos todas as dificuldades narradas no Evangelho que Maria passou, podemos ter certeza que ela estava, em cada momento, colaborando com Deus. A missão de Maria era tão grande, que Deus a podou muito.

Esperar o tempo da colheita

Ninguém semeia num dia e já pode colher no dia seguinte. As coisas de Deus levam tempo. As coisas que valem a pena levam tempo e saber esperar é muito difícil. Mas, precisamos confiar um dia após o outro, um mês após o outro, um ano após o outro. Não podemos pensar que Deus nos abandonou porque as coisas não estão acontecendo do jeito que nós queremos.

Maria soube esperar por toda sua vida, mas ao fim, Deus a coroou como rainha e mãe da Igreja e do Reino dos Céus. Ela ganhou o trono que merecia porque confiou sempre em Deus.

“Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido.”

(Gálatas 6, 9)

Por isso, quando nós passamos provações, quando temos dificuldades, não podemos desistir, não podemos jogar a toalha. Se nós desistirmos, todo o esforço anterior é perdido.

Maria não é um exemplo distante, mas ela está próxima de nós, ajudando a formar nosso coração e nossas almas. 

Que saibamos, nesse dia de Nossa Senhora de Guadalupe, confiar nela, depositar todos os nossos problemas, nossas dificuldades, nossas esperanças e suas mãos, porque tudo o que colocamos nas mãos de Maria jamais pode se perder.

  • Pe. Rodrigo Hurtado LC transmite aos domingos, às 18h, a celebração da Santa Missa em seu Canal do YouTube. Acesse, inscreva-se e ative as notificações.