Nesse domingo, dia 9 de maio, Pe. Rodrigo Hurtado, LC, reflete em sua homilia sobre o novo mandamento de Jesus, que nos conduz pelo caminho do amor. A liturgia desse domingo traz o trecho do Evangelho de João em que Jesus, reunido com os discípulos na Última Ceia, resume todo seus três anos de ensinamento em um só mandamento: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amei».

«Jesus está medindo cuidadosamente suas palavras e vai resumir todos os seus ensinamentos, seus três anos de pregação em um único princípio, em um único mandamento», ensina Pe. Rodrigo. «Se nós queremos ser realmente seguidores de Jesus, que morreu por nós na cruz, que viveu esse amor desse jeito, essa é a única coisa que nós precisamos: viver o amor».

Pe. Rodrigo reforça que é preciso tentar entender exatamente o que significa amar, porque se queremos ser bons cristãos, temos que ser os melhores em viver o amor, «porque esse é o único mandamento que Jesus nos deixou».

«Hoje existe muita confusão sobra a palavra amor», reconhece o padre. «Quando a gente escuta música, vê filmes românticos e lê livros, há tanta coisa sobre o amor. Amor significa muitas coisas diferentes… É tudo a mesma coisa? O que significa amar?»

O padre lembra que a cultura de hoje tende a entender o amor como «um sentimento profundo, intenso que nasce no coração, mas é algo, em certo sentido, incontrolável». Em inglês se usa a expressão ‘falling in love’, como se o amor fosse como a força da gravidade, contra a qual não se pode fazer nada. Simplesmente se apaixona. Mas, como seria possível que o amor fosse um sentimento e também um mandamento, uma ordem de Jesus. Portanto, quando Jesus deixa esse mandamento, ele não está falando de sentimento.

1- Jesus ensina que amar é uma escolha.

«Em primeiro lugar, o amor é uma escolha», diz Pe. Rodrigo. «É algo que você tem que fazer conscientemente». «Quando você vai caminhando pela rua e encontra uma pessoa carente, você tem que fazer uma escolha: eu sigo meu caminho ou eu paro e me sensibilizo e ajudo essa pessoa. Isso é uma escolha. Você tem que tomar a decisão de amar a essa pessoa».

Um esposo atarefado pode escolher ficar com sua esposa que esteja doente naquele dia. Você também pode escolher consolar e estar próximo de alguém que perdeu um ente querido. «Imagina alguém que te ofende, alguém que te critica. Você pode responder com a mesma moeda, fazer o mesmo que ele fez com você ou pode decidir fazer a escolha de não responder com a mesma moeda. Eu não vou criticar,  não vou falar mal, não vou brigar, mas é uma escolha».

Pe. Rodrigo recorda quando S. Paulo diz em sua carta aos Coríntios, no capítulo 14: “Irmãos, segui o caminho do senhor”. «Existem muitos caminhos, mas a gente tem que escolher um caminho e Paulo diz, irmãos, escolham o caminho do amor». 

O padre continua ensinando que quando Paulo pregava, na antiguidade, ele vivia em uma sociedade muito corrompida. Os mais ricos tinham escravos que não valiam nada e podiam ser mortos sem que alguém se incomodasse, as crianças indesejadas eram lançadas fora e seu divertimento era ver pessoas morrendo nos espetáculos do circo. Era uma sociedade em que não era comum o perdão e a norma era a vingança, a ambição, a busca de poder. Mas, ali, Paulo falava sobre o amor, para uma sociedade que nada sabia do amor. 

Essa escolha pelo amor não é algo que nasça espontaneamente, segundo o Pe. Rodrigo, ainda que possa nascer, especialmente quando nosso coração é redimido pela graça Deus e, cada vez mais, sentimos o amor nascer como algo espontâneo, mas não é definido como um sentimento, mas, uma escolha.

2- Jesus ensina que amar é uma atitude concreta

Pe. Rodrigo esclarece que João escreve em sua primeira carta (1 Jo 3, 18) que temos que amar com atitudes, de verdade, não apenas com palavras. «Deus quer obras concretas», afirma.

Ele também recorda que C. S. Lewis, escritor inglês, em seu livro “Os Quatro Amores” explica que os gregos usavam quatro palavras distintas para significar o amor. A primeira é Storge que é relacionado àquela simpatia que nos faz relacionarmos com alguma pessoa de quem gostamos. A segunda palavra é Eros, que significa o amor de atração física, com um componente mais carnal. Depois vem Filia, que é o amor que possui um vínculo de sangue, como ocorre entre pais e filhos, entre irmãos. Por fim, Lewis fala do amor Ágape, que não tem vínculo se sangue, não tem atração física, não é simplesmente amizade e pode até acontecer com pessoas que não conheçamos. «Quando Jesus fala do amor nos Evangelhos, que foram escritos em grego, Ele sempre usa a palavra ágape. É um amor de sacrifício, um amor que você faz para outra pessoa».

«Nós escutamos hoje, João, na segunda leitura, dizer essa frase: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou seu filho como vítima de reparação pelos nossos pecados”. Ou seja, Deus não bastou dizer que nos amava, mas mandou seu Filho. Ele viveu conosco, ele morreu na cruz por nós. São atos concretos», continua Pe. Rodrigo.

Jesus também mandou amar os inimigos (Lc 6) e ainda descreve três formas concretas de fazê-lo. Fazer bem aos que nos odeiam, bendizer, isto é, falar bem daqueles que nos maldizem, ou seja, falam mal de nós e orar pelos que nos caluniam. E, S. Paulo, no famoso trecho de sua primeira carta aos Coríntios (1 Cor, 3, 14), traz quinze atitudes concretas que nós podemos praticar. 

3 – Jesus ensina que amar implica compromisso

Pe. Rodrigo segue ensinando que «ele (o amor) busca compromisso porque, quem ama de verdade quer o bem do outro, independente do que eu sinto. Isso é importante. Porque eu quero o bem do outro eu vou subtrair o meu amor da fragilidade humana, da minha própria fraqueza. Vou ancorá-lo na eternidade, na segurança, de maneira que, mesmo que eu um dia seja fraco, que não tenha força para amar, eu não cometa o erro de não amar. O pelo menos, de não abandonar o caminho do amor, como dizia Paulo».

O padre lembra da epopeia grega de Ulisses, que depois de vencer a batalha em Troia, demora dez anos para voltar a sua ilha de Ítaca. Sua esposa era assediada por pretendentes que pensavam que Ulisses havia morrido. Ele, por sua vez, ao saber que passaria por uma região em que haviam sereias, que eram tão belas que encantavam os marinheiros para depois matá-los, faz com que seus marinheiros colocassem cera nos ouvidos e pede para ele mesmo seja amarrado no mastro principal do navio. 

«Isso é amor, porque quando ele está lúcido e quer ser fiel à sua mulher, se amarra ao mastro para não cometer um erro», diz o Pe. Rodrigo. «O amor busca proteger-se. O amor busca subtrair-se da fraqueza humana para conservar sempre o amor. O amor se projeta sempre na eternidade».

Ao encerrar sua homilia, Pe. Rodrigo chama a atenção para mais um aspecto do texto evangélico. Jesus fala de um mandamento novo, mas o mandamento do amor já existia na lei judaica que dizia “amai ao próximo como a si mesmo”.

Pe. Rodrigo, explica, portanto, que o mandamento de Jesus é novo, porque Ele agrega “como eu vos amei”. «Agora temos que morrer como Cristo morreu por nós. Agora, o amor pleno. Amor perfeito é o amor de Jesus…Ser cristão significa amar como Cristo amou».

«E como Cristo amou?» – pergunta o padre, que responde através do texto da carta de Paulo aos Efésios (3, 17), em que o apóstolo fala de quatro dimensões do amor de Cristo. Largura e Comprimento, Altura e Profundidade. 

«Nunca vamos compreender totalmente, mas posso sempre buscar reproduzir esse amor de Cristo. Aliás, Que nós não possamos viver tudo, não significa que não possamos viver algo. Que nós não consigamos entender totalmente o amor de Cristo, não significa que eu não possa compreender algo», tranquiliza o Pe. Rodrigo.

«O amor de Cristo, eu diria, é largo o suficiente para chegar a todas as partes do mundo, até os confins da terra. Não existe um lugar em que você esteja fora do amor de Deus. Não existe um lugar em que você possa fazer algo tão grave que Deus não te ame mais. Não existe um lugar que esteja tão cheio de pecado em que o amor de Deus não chegue. Ele é largo o suficiente para abranger o universo inteiro», explica.

«O amor de Deus é comprido o suficiente para durar para sempre. Ele é tão comprido que ele nunca acaba. Quando você tem 10 anos, quando tem 20, quando tem 50, 100 anos, o amor de Deus é fiel. Ele nunca nos abandona. Lá no início da era cristã e agora, dois mil anos depois, o amor de Cristo é tão comprido quanto a história da humanidade até o fim dos tempos».

«É profundo o suficiente para compreender e lidar com qualquer problema. O amor de Cristo é tão profundo que Ele vê até o mais profundo de nosso coração. Não existe um sentimento, uma pena, um medo, uma insegurança que nós levemos no profundo de nosso coração e que Deus não vê, porque o amor de Cristo vê até nas profundezas. Você pode até tentar que Deus lhe ame menos, mas você vai fracassar», afirma Pe. Rodrigo.

«Finalmente, ele é alto o suficiente para passar por cima de todos os seus pecados. Deus pode te perdoar. A altura do amor de Deus é tão grande que Ele pode passar por cima de qualquer pecado, de qualquer vida que você tenha vivido, de que qualquer coisa que tenha acontecido».

O Pe. Rodrigo encerra sua homilia dominical lembrando que, se queremos ser cristãos verdadeiros, temos que lembrar que esse é o principal e o primeiro de todos os mandamentos. «É só assim que vamos conseguir levar com muito orgulho esse nome de cristãos e depois receber, das mãos de Cristo, a vida eterna». 

A Santa Missa com o Pe. Rodrigo é transmitida todo domingo, às 18h, em seu canal do YouTube. Ele também é o fundador do Instituto Católico de Liderança e idealizador do aplicativo de meditações Seedtime.