Nesse Domingo em que a Igreja comemora a Ascensão do Senhor, Pe. Rodrigo Hurtado, LC, reflete sobre a realidade do céu e sobre como podemos chegar ali.

O trecho do Evangelho trazido pela liturgia desse domingo fala que Jesus, ao terminar aqueles dias após sua ressurreição, foi levado ao céu e sentou-se à direita de Deus. «Acho que é um bom momento para esclarecer, de uma vez por todas, o que significa o céu», começa sua homilia o Pe. Rodrigo, fundador do Instituto Católico de Liderança.

«Antigamente, todas as religiões tinham o céu como a morada da divindade, e a Bíblia usa essa linguagem», ensina o padre. «Mas, quando chegou a era moderna, a era científica, descobrimos que o céu é apenas o espaço que há entre os planetas, as estrelas e as galáxias».

«A primeira coisa que devo dizer é que, obviamente, o céu não é em sentido material. Nem a própria Bíblia pensa desse jeito», explica. «Mas, a pergunta é válida: O que é o céu? Pois, afinal, esse é o objetivo de toda nossa vida».

1. O céu é um lugar, não apenas um estado da alma

«O céu não é apenas um estado, é um lugar. O céu, em certo sentido, é um lugar», afirma o Pe. Rodrigo. Quando Jesus estava falando disso com os apóstolos na última ceia (Jo 14, 2), Ele fala que iria para a casa do Pai preparar um lugar. Em certo sentido, o céu é um lugar. «Não um lugar no sentido das dimensões espaço-temporais que conhecemos. É um mistério».

Pe. Rodrigo lembra que quando Jesus ressuscitou, Ele o fez também em corpo. Ele subiu ao céu em corpo e alma. Maria também foi assunta ao céu em corpo e alma. O céu é o lugar onde habita Deus.

2. O céu é o lugar da perfeita alegria.

«Nosso coração sempre tem desejo da plenitude», reflete Pe. Rodrigo. «Nunca vamos preencher o desejo humano. Você pode ter o mundo inteiro e ainda assim vai ter um buraco no coração necessitado de plenitude. O céu é o lugar onde tudo isso é preenchido por Deus».

O padre continua explicando que o céu será o lugar da plenitude, da felicidade, da alegria, como está escrito no livro do Apocalipse (21, 4). «Penso muito nos noivos… a surpresa de um novo casamento, de um futuro. Por que estamos tão felizes? Porque começamos a preencher as expectativas, temos um futuro que se vê muito belo. Mas, isso, na vida humana é muito limitado. Imagine no céu, isso por toda a eternidade, porque Deus é infinito e você nunca esgota a perfeição e a grandeza de Deus. Então, lá vai ser a felicidade perfeita».

3. É um lugar permanente, durará para sempre

Isso também é dito por S. Paulo na segunda carta aos coríntios (2 Cor 5, 1). «Isso nunca vai acabar. A Vida eterna, nós a chamamos assim, porque ela é definitiva. Às vezes perguntamos como Deus não acabou com o sofrimento. Ele vai acabar sim, não aqui nessa vida, mas na outra vida», exclama Pe. Rodrigo.

4. É um lugar reservado só para Deus e para sua família

O céu «não é um parque publico que entra todo mundo. É propriedade privada. Você tem que ser convidado para entrar no céu», reforça o padre em sua homilia.

Pe. Rodrigo relembra a descrição que a Bíblia traz do Livro da Vida. No livro do Apocalipse (21, 27), João fala que só entrará no céu, aqueles cujos nomes estão gravados no Livro da Vida. Jesus fala aos apóstolos para não se alegrarem porque os demônios se submetem ou porque curam os doentes. Alegrem-se porque seus nomes estão escritos no Livro da Vida.

«O que é o Livro da Vida? – pergunta o Pe. Rodrigo. «Eu diria que, se o céu é o lugar da morada de Deus, o Livro da Vida é o livro de reservas. O problema é que, não é só pegar o telefone e fazer uma reserva. Aí você tem que ser convidado e, se você não está no livro, você não entra».

É difícil entrar no céu?

O Pe. Rodrigo recorda que há uma ideia muito popular hoje em dia de que o Inferno esteja vazio, que Deus não condena, «Ele é muito bom, Ele é um Pai. Como um pai vai permitir isso?»

«Deus não condena ninguém», afirma o padre. «É uma escolha que nós fazemos e Deus respeita nossa liberdade. Assim como existe o céu, e nós podemos ir ao céu e ter essa alegria infinita por toda a eternidade com Deus, nós também podemos perder a única oportunidade de entrar no céu que vai acontecer ao final de nossa vida, e nunca mais poder entrar. A condenação é por toda a eternidade».

Pe. Rodrigo retoma o texto do Evangelho de Mateus (7, 13) e revela que para se chegar ao céu, há um caminho. «Não é uma escolha, uma decisão que eu faço no último dia, quando já é tarde demais. É um caminho, é uma decisão que fazemos todos os dias. E, à medida que fazemos essas escolhas, por Deus ou contra Deus, pela vida, pela saúde, pelo respeito aos outros, pela caridade, pela esperança, pela fé, nós vamos caminhando um determinado caminho. O caminho da salvação, ou o caminho da perdição. Mas são caminhos que nós escolhemos».

«O importante não é o último momento, mas a vida toda», ensina Pe. Rodrigo.

A segunda coisa que se extrai desse trecho do Evangelho de Mateus (7, 13) é essa noção de muitos e poucos. Muitos vão por um caminho, poucos vão por outro. Isso não significa que muitos se condenaram. «Jesus não está falando isso», esclarece o Pe. Rodrigo. «Muitos caminham pelo caminho errado. Nós todos percebemos isso».

«Deus pode ter misericórdia, podem se converter num último momento. Mas, no mínimo, é um pouco estranho que alguém que desejou toda a vida terrena viver sem Deus, de pronto, decida viver a vida eterna com Deus. Será que vamos mudar de opinião na última hora?», questiona o Pe. Rodrigo

O que vamos fazer no céu?

1 – Vai ser o lugar do encontro.

Pe. Rodrigo explica que «no céu vamos nos encontrar com Deus que é o grande desejo de nosso coração, mesmo nós não sabendo». Em segundo lugar, vamos encontrar todos nossos entes queridos. «Vamos encontrar Jesus, Maria e meus avós, que estão lá no céu. Todos vamos nos encontrar no céu. Esta vida é muito breve e quando nós enterramos alguém e celebramos um funeral é apenas um até logo», relembra.

2- O céu é um lugar da recompensa

Jesus cita muito isso no Evangelho, como em Mt 5, 11. «Lá vamos receber a recompensa pelo que nós vivemos aqui nessa terra», reflete Pe. Rodrigo.

«Nós podemos fazer três coisas aqui nessa terra. Nós podemos desperdiçar a vida, podemos gastar a vida, ou podemos investir a vida. Desperdiça a vida aquele que faz coisas que não servem para essa vida e nem para a outra. É o pecado». Gasta a via aquele que faz coisas que são úteis para essa vida e não são para a vida eterna. «Podemos trabalhar, limpar o jardim, fazer compras. Essas coisas, se eu faço só e apenas com uma visão humana ,sem fé, só porque eu tenho que fazê-las. Estou gastando minha vida. E, existe um nível mais profundo que é investir a minha vida. Fazer todas essas coisas e outras, que não só tem valor nessa vida, mas sobretudo têm valor na eternidade».

«Que nossa vida, cada minuto cada dia seja um investimento. Não vivamos de qualquer jeito», deseja o Pe. Rodrigo.

3 – Vamos receber uma grande responsabilidade

«O céu não é um resort com campo de golfe», segundo Pe. Rodrigo. «O céu é um lugar para trabalhar». Jesus, na Parábola dos Talentos (Mt 25, 21), fala que vamos receber um trabalho, vamos administrar algo la no céu. «A vida é um teste. Se você administrou bem os bens materiais, você vai receber lá os bens espirituais… Se você administra qualquer coisa bem, receberá isso mesmo, multiplicado.

«Nós vamos lá para reinar com Cristo sobre o universo. Vamos reinar com ele sobre o universo inteiro. Que mistério esse?!», exclama Pe. Rodrigo.

«Lembrem-se muito disso, aqui na terra é como um teste. Esta não é a vida verdadeira, é apenas um teste. Este não é o concerto, é o ensaio. Esta não é a obra prima, é o rascunho. Esta não é a vida verdadeira, é apenas o ensino fundamental. Aqui você aprende, mas ela tem valor de eternidade. O que você faz aqui, determina o que você faz lá no reino dos céus».

Como fazemos para entrar no Reino dos Céus?

«Esse é o grande tema de toda nossa vida», raciocina o Pe. Rodrigo. «Se nos preparamos agora para entrar no Reino dos Céus. Se deixamos qualquer coisa com o tanto de alcançar o reino dos céus. Fazemos a coisa certa. O melhor negócio que podemos fazer em nossa vida é ganhar a vida eterna».

São Paulo se compara aos atletas das olimpíadas gregas de sua época, em sua carta aos Coríntios (1 Cor 9, 25). Ele fala dos atletas que se submetem a um treinamento rigoroso para ganhar uma coroa que perece. Mas, ele diz que «no entanto, nós nos dedicamos para ganhar uma coroa que dura eternamente».

«Eu gosto dessa expressão de S. Paulo que diz: ‘Nós, no entanto’», admite o padre. Nós somos uma categoria de atletas, mas não lutamos por uma medalha de ouro, de bronze de prata. Nós lutamos por uma medalha que dura por toda a eternidade, nós lutamos para alcançar o reino dos céu».

Pe. Rodrigo, seguindo com sua homilia, diz que o caminho de que Jesus fala é fácil de entender, mas é difícil de viver. Na última ceia (Jo 14, 5), falando do Céu, Jesus falou que ele É o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai senão por Ele. «O caminho é Jesus, ou seja, o estilo de vida de Jesus».

«Tudo o que Jesus viveu, nós temos que viver também em nossa própria vida. Seguir o modelo de Jesus, esse é o caminho que nos leva ao Pai, ao Reino dos Céus», esclarece.

S. Paulo, na carta aos Romanos (10, 9), tenta resumir o que é esse caminho. «Primeiro temos que acreditar em Cristo. Portanto, seguir o caminho dele, o estilo de vida dele. Mas, Paulo agrega uma segunda. Confessar com nossa boca, que ele é o Senhor. Não basta apenas viver a vida de Jesus, mas temos que dar testemunho corajoso. Temos que mostrar ao mundo qual é a nossa fé».

Pe. Rodrigo adverte que ninguém pode ser salvar se não escutou o anúncio do Evangelho, por isso é importante que o cristão testemunhe sua fé coerentemente.

«Cristão não vai ao céu sozinho, ele vai com outros, com aqueles que salvou. No mínimo, sua família. Tem que falar para sua família, mas também outras pessoas, meus amigos, meus colegas de trabalho».

Pe. Rodrigo continua: «A fé entra pelo ouvido. Se você está aqui hoje é porque alguém lhe falou de Jesus. Se o mundo está mal é porque nós, cristãos, não estamos dando testemunho de nossa fé».

«Precisamos falar com coragem, que somos cristãos, que acreditamos em Jesus»

Pe. Rodrigo

Por fim, ao encerrar a homilia desse domingo da Ascensão do Senhor, Pe. Rodrigo diz que «O céu é o grande objetivo de nossa vida. Que nenhum sacrifício seja grande com o tal de conquistarmos também o Reino dos Céus».

* Pe Rodrigo Hurtado, LC, idealizador do aplicativo de meditações católicas Seedtime, celebra a Missa todo domingo em seu canal de YouTube. Inscreva-se, ative as notificações, deixe seu like e compartilhe.