Em sua homilia da missa do 16º Domingo do Tempo Comum, Pe. Rodrigo Hurtado, LC, medita sobre a bondade de Deus, que nunca deixa de agir em favor de seus amados. Ele também reflete sobre o que acontece conosco quando duvidamos do amor de Deus e nos mostra como Deus é bom o tempo todo.

O Evangelho trazido pela liturgia dessa semana é uma continuação do evangelho de domingo passado. Agora Jesus recebe seus apóstolos, que havia enviado em missão, dois a dois, e eles estão muito cansados. Jesus, portanto, quer levá-los para descansar em um lugar deserto, mas quando aportam seu barco, toda uma multidão já está no local a espera de Jesus. São Marcos traz um comentário que, para o Pe. Rodrigo, é o centro da mensagem desse trecho das Escrituras. Jesus viu uma numerosa multidão e «teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor».

Pe. Rodrigo recorda que há alguns meses celebramos o Domingo do Bom Pastor e no Evangelho de hoje, Jesus não fala do Bom Pastor, «mas Ele é, de fato, o Bom Pastor. Ele atua como Bom Pastor. Por isso, o convite de hoje é contemplar o coração de Jesus, esse coração compassivo, esse coração bondoso».

«Contemplar o coração de Cristo como um coração bom, o coração de Deus, é o centro de toda nossa vida», ensina Pe. Rodrigo, que também recorda que esse é o cerne de nossa devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

Contudo, o padre também constata que, muitas vezes, em nossa vida, a bondade de Deus é questionada por fatos que acontecem. As duras experiências de nossa vida e os momentos difíceis em que passamos podem nos fazer questionar se Deus é bom o tempo todo. Será que Ele se lembra de mim naqueles momentos em que estou passando dificuldades?

Na verdade, essa errada percepção de que Deus não é bom a todo momento é o argumento usado justamente por aqueles que não acreditam nele. Eles precisamente questionam sobre o fato de que, como pode ser bom um Deus que permite o sofrimento no mundo.

Talvez, nós mesmos estejamos passando por momentos de provação em que questionamos a bondade de Deus em nossa vida, mas, então, o Pe. Rodrigo recorda aquilo que diz o Salmo 100:

O Senhor é bom; a sua benignidade dura para sempre, e a sua fidelidade de geração em geração.

Salmo 100,5

Esta afirmação pode ser encontrada em vários trechos da Sagrada Escritura, mas o Pe. Rodrigo então faz a pergunta: «Será que Deus é bom o tempo todo?» E, para responder a essa pergunta, o padre ensina que, em primeiro lugar, isto só pode ser compreendido a partir da perspectiva da fé. Por outro lado, se deixarmos de acreditar na bondade de Deus, acontecem muitas calamidades em nossa vida.

O que acontece quando eu me esqueço da bondade de Deus?

Começo a me dar o crédito por coisas que Deus fez por mim.

Deus nos faz várias coisas boas, mas quando eu me esqueço da bondade de Deus, eu começo a atribuir essas coisas a mim. Pe. Rodrigo, inclusive, menciona a parábola que está no capítulo 12 do Evangelho de Lucas, em que um homem rico, ao ver suas terras produzindo em abundância, resolve derrubar seus celeiros para construir outros maiores. Nesse momento, Deus diz para o homem: «Tolo! Essa mesma noite arrebatarei tua alma».

Aquela colheita não era fruto do trabalho daquele homem e, na parábola, vemos que ele parecia ter se esquecido que tudo lhe fora dado por Deus. Um empresário de sucesso pode dizer que «foi com essas mãos» que ele levantou a empresa, mas, pergunta o Pe. Rodrigo: «– E quem te deu essas mãos?».

«Afinal, tudo nós recebemos de Deus», afirma o Pe. Rodrigo, que também explica que «o pecado mais grave e, no fundo, a raiz de todos os pecados, é a ingratidão fruto da soberba». «Quando nós pensamos que tudo o que temos é por nós e não somos gratos a Deus, não reconhecemos tudo o que Ele fez por nós. Esse foi o pecado do demônio».

S. Paulo, em sua carta aos Romanos (1, 20), diz que esse pecado é a raiz de todo ateísmo, pois a presença e a bondade de Deus podem ser vistas em toda a criação. Os ateus podem alegar que isso seja obra de uma casualidade, da evolução. Pe. Rodrigo, por sua vez, nos lembra que nós, católicos, não somos contrários à evolução, mas cremos que Deus é quem está por trás de toda evolução. «A evolução não foi fruto da casualidade».

«Você precisa mais fé para acreditar na casualidade de tudo o que aconteceu para chegar mundo de hoje do que para acreditar em Deus», reforça o padre.

Portanto, «não nos esqueçamos da bondade de Deus e não atribuamos a nós os méritos que, no fundo, em última análise, nós devemos a Deus».

Deixo de Pedir ajuda a Deus

A segunda coisa que me acontece quando eu me esqueço do amor e da bondade de Deus é que eu deixo de pedir ajuda a Deus. Nós precisamos pedir a Deus. «Quem rejeita a bondade de Deus está por conta própria», indica o Pe. Rodrigo.

«Jesus insistiu muitas vezes no evangelho, “pedi, e vos será dado”, “chamai e se abrirá a porta”, porque nós precisamos pedir», diz o Pe. Rodrigo.

O padre fala que o ato de pedir a Deus é o que ele chama de Círculo da Confiança. Ele explica que uma criança começa a confiar no seu pai por um processo muito simples. Primeiro ela percebe uma necessidade; em segundo lugar, ela expressa pedindo ajuda; depois, o pai e a mãe satisfazem essa necessidade e a criança aprende a confiar no pai e na mãe. Ao ter outra necessidade, ela repete o processo e depois de repetir muitas vezes esse ciclo, obviamente, os filhos irão confiar ainda mais em seus pais.

Com Deus se dá da mesma forma, pois Deus quer que nós confiemos nele e se nós descobrimos a necessidade e pedimos a Deus, Ele pode, não simplesmente nos satisfazer a necessidade, mas nos dar aquilo que nós pedimos e, portanto, aumentar nossa confiança nele.

Muitas pessoas costumam dizer ao padre que não pedem coisas pequenas a Deus, e preferem pedir a Deus só coisas grandes, mas – reconhece Pe. Rodrigo – para Deus nada é grande, tudo é pequeno, mas quando Ele vê que é algo é importante para nós, torna-se importante para Ele também.

Portanto, diz o padre, «não se reserve a pedir somente as coisas grandes. Peça tudo. Peça constantemente e seja específico, e verá como Deus lhe dá».

“Se vós, apesar de serdes maus, sabeis dar o que é bom aos vossos filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem!” (Lucas 11, 13)

Deixo de confiar em Deus nos momentos difíceis

Em terceiro lugar, se não acredito na bondade de Deus, a terceira coisa que acontece é que deixo de confiar em Deus nos momentos de provação, de dificuldade. «E é nesses momentos, mais que nunca, é que preciso de Deus», constata o Pe. Rodrigo.

Pe. Rodrigo vê que muitas pessoas, quando se encontram em momentos de provação, de dificuldade, se revoltam contra Deus e se afastam de Deus, mas é justamente o contrário que deve ser feito. «É nesse momento, mais do que nunca, que você não tem que duvidar da bondade de Deus e buscá-lo, porque você precisa da ajuda dele».

«Deus não manda o mal. Deus não queria o mal, o sofrimento, nem a morte, mas isso entrou pelo pecado original». «Por enquanto, quando nós encontramos sofrimento, provação, aproximemo-nos de Deus. Quando você duvida da bondade de Deus, então, você perde a ajuda dele», continua o padre.

«Tudo Deus sabe usar para nosso bem», afirma. «Nisso se manifesta o poder de Deus. Não em que Ele é tão poderoso que evita qualquer mal em nossa vida. Mas, Ele vai transformar qualquer mal em bem na sua vida, porque Ele é todo-poderoso».

Torno-me pessimista a respeito do futuro

A quarta coisa que me acontece quando esqueço da bondade de Deus é que me torno pessimista a respeito do futuro. «A esperança está baseada no poder e no amor de Deus. Se tiramos isso de nossa vida, não temos controle sobre o futuro».

O pensamento positivo pode até ajudar a pessoa a continuar lutando, mas não vai mudar a realidade. Contudo, «a esperança cristã, fundada no amor e no poder de Deus é que cria realmente uma confiança para enfrentar o futuro em nossa vida», esclarece Pe. Rodrigo.

Como sabemos que Deus é bom o tempo todo.

E, nesse momento, Pe. Rodrigo começa a refletir sobre o Salmo 23, trazido pela liturgia desse Domingo. Nesse salmo, segundo o padre, encontramos nove coisas que Deus faz conosco.

O Senhor é o Pastor que me conduz, não me falta coisa alguma. A primeira coisa que Deus faz é prover as nossas necessidades. «Deus expressa sua bondade provendo as nossas necessidades». Nós só temos que distinguir entre necessidade e capricho, explica o padre. «Necessidades são as coisas que realmente nós precisamos».

Pelos prados e campinas verdejantes Ele me leva a descansar, e para as águas repousantes me encaminhas. A segunda coisa que Deus faz é me consolar e me dar repouso nos momentos em que estou estressado e na provação. «Esse é o estilo de vida que Deus quer para nós, não uma vida correndo, todo dia, cheio de coisa. Não! Uma vida repousada, tranquila, vivendo do essencial», indica o padre.

Ele restaura as minhas forças. «Muitas vezes nós estamos desgastados, não apenas física, mas emocionalmente, psicologicamente desgastados. Pois bem, Ele pode restaurar nossas forças». Pe. Rodrigo conta que o sol produz em 1 segundo mais energia do que produziu o ser humano em toda a sua história e ele ainda tem reservas de energia para mais 4,6 bilhões de anos e, «sabe quem criou o sol? Deus».

Ele me guia no caminho mais seguro pela honra de seu Nome. «Deus me guia, Ele me orienta. Quando eu tenho que tomar uma decisão importante, então, devo acudir a Deus». Nós temos o instinto contrário, fazemos tudo e quando tudo dá errado, é que vamos buscar a Deus. «Que Deus não seja seu último refúgio, que seja sua primeira reação», convoca o Pe. Rodrigo.

Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei. O salmista não está dizendo que você nunca passará por vales tenebrosos, ao contrário. Mas, «quando você passar, Deus irá estar aí, Ele estará acompanhando você. Mesmo no momento de dificuldade, Ele vai estar junto a nós. Confie na sabedoria de Deus e no tempo dele. Se ele permite um vale tenebroso, é porque Deus vai tirar daí um bem para sua alma».

Estais comigo com bastão e com o cajado, eles me dão a segurança. O cajado representa a autoridade do pastor. Com isso Deus, com seu poder e sua autoridade, realiza muitos bens em nossa vida. E o bastão é que o pastor usa para trazer para o rebanho uma ovelha desgarrada. «Essas são as duas ferramentas que Deus tem para cuidar de nós, o amor e a dor. Às vezes pelo amor, às vezes pela dor. Mas Deus nunca nos abandona. E, essas duas ferramentas, o amor e a dor, são para nosso bem», ilustra o padre.

Preparais à minha frente uma mesa, bem à vista do inimigo e com óleo vós ungis minha cabeça, o meu cálice transborda. Deus mostra publicamente o seu amor por mim. Isso significa que a bênção de Deus não chega a mim somente na outra vida. Todos veem como Deus nos abençoa. «Quem é fiel a Deus, que não duvida, recebe e recebe agora, nesta vida».

Felicidade e todo bem hão de seguir-me por toda a minha vida. «Eu não sei o que vai me acontecer no futuro… mas, uma coisa eu sei. Eu sei que Deus nunca vai me abandonar». A fidelidade de Deus não está baseada na minha fidelidade, que é muito inconstante. Está baseada na fidelidade do próprio Deus. O amor de Deus não está baseado em que eu ame a Deus, mas em que Ele nos ama. Por isso posso confiar, porque Deus é consistente.

Na casa do Senhor habitarei pelos tempos infinitos. Depois de ter experimentado a bondade de Deus durante toda minha vida, Ele vai me receber também na sua morada. Ou seja, Ele me levará para o céu.

Ao encerrar sua homilia, Pe. Rodrigo pede que «confiemos em Deus, nunca duvidemos da bondade dele e você verá nesta vida, no momento em que Deus, que Sua sabedoria estabeleça, como Ele é bom realmente, como Ele nunca lhe abandona. Ele, sim, é o Bom Pastor em nossa vida».

* Pe Rodrigo Hurtado, LC, idealizador do aplicativo de meditações católicas Seedtime, celebra a Missa todo domingo em seu Canal de YouTube. Inscreva-se, ative as notificações, deixe seu like e compartilhe.